terça-feira, 28 de dezembro de 2010




O fato é que eu havia me viciado em David (em minha defesa, posso dizer que ele havia possibilitado isso, já que era uma espécie de homem fatal) e, agora que sua atenção estava desaparecendo, sofria as conseqüências facilmente previsíveis. O vício é a marca de toda historia de amor baseada na obsessão. Tudo começa quando o objetivo de sua adoração lhe dá uma dose generosa, alucinante de algo que você nunca ousou admitir que quisesse _ um explosivo coquetel emocional, talvez, feito de amor estrondoso e louca excitação. Logo você começa a precisar dessa atenção intensa com a obsessão faminta de qualquer viciado. Quando a droga é retirada, você imediatamente adoece, louco e em crise de abstinência (sem falar no ressentimento para com o traficante que incentivou você a adquirir seu vicio, mas que agora se recusa a descolar o bagulho bom_ apesar de você saber que ele tem algum escondido em algum lugar, caramba, porque ele antes lhe dava de graça). O estágio seguinte é você esquelética e tremendo em um canto, sabendo apenas que venderia sua alma ou roubaria seus vizinhos só para ter aquela coisa mais uma vez que fosse.
Enquanto isso, o objeto de sua adoração agora sente repulsa por você. Ele olha para você como se você fosse alguém que ele nunca viu antes, muito menos alguém que um dia amou com grande paixão. A ironia é que você não pode culpá-lo. Quero dizer, olhe bem pra você. Você está um caco, irreconhecível até mesmo aos seus próprios olhos.
Então é isso. Você agora chegou ao ponto final da obsessão amorosa_ a completa e implacável desvalorização de si mesma.


comer, rezar, amar
Elizabeth Gilbert


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